terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sobre ela...


Ela olha, mas seu olhar é distante.

Ela ri, mas seu riso é vazio.

Ela fala, mas suas palavras são sem sentido.

Ela canta, mas sua música está sem ritmo.

Ela pensa, mas seus pensamentos a deixam confusa.

Ela dança, mas sua coreografia é desengonçada.

Ela respira, mas fica sem ar.

Ela come, mas está sempre sem fome.

Ela dorme, mas seu sono está leve.

Ela acorda, mas seus dias parecem sem brilho.

Ela conta as horas, mas os minutos não passam.

Ela se toca, mas seus dedos ficam sem sentir sua pele.

Ela escreve, mas sua caneta está sem tinta.

Ela ama, mas só vê seu amor em sonhos.

Ela vive, mas sua vida está sem sabor.


domingo, 21 de dezembro de 2008

Aonde quer que eu vá

"Olhos fechados, pra te encontrar
Não estou ao seu lado, mas posso sonhar
E aonde quer que eu vá, levo você no olhar
Aonde quer que eu vá, aonde quer que eu vá
Não sei bem certo, se é só ilusão
Se é você já perto, se é intuição
E aonde quer que eu vá, levo você no olhar
Aonde quer que eu vá, aonde quer que eu vá
Longe de daqui, longe de tudo, meus olhos vão te buscar
Volta pra mim, vem pro meu mundo
Eu sempre vou te esperar
Não sei bem certo, se é só ilusão
Se é você já perto, se é intuição
E aonde quer que eu vá, levo você no olhar
Aonde quer que eu vá, aonde quer que eu vá..."

Os Paralamas do Sucesso

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Simples Assim

"I see skies of blue... clouds of white. Bright blessed days... dark sacred nights. And I think to myself... what a wonderful world." What a Wonderful World - Louis Armstrong

Ela parou e começou a pensar: "Será que todas as minhas escolhas foram as certas? E se eu tivesse tomado decisões diferentes? E se eu tivesse dito 'sim' em vez de dizer 'não', e dito 'não' em vez de 'sim'? E se...?"
Então, ela parou e pensou: "Não... eu tomei as melhores decisões. Todas elas me trouxeram até hoje; até quem eu sou e o que tenho. Não poderia ser mais perfeito..."
Julia Wigner

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O Espelho

"Close your eyes, and think of someone you physically admire. Let me kiss you. But then, you open your eyes, and you see someone that you physically despise." - Let me kiss you - Morrissey.
Ela sempre foi muito bonita. Tinha um rosto que roubava a atenção em qualquer lugar que fosse. O cabelo era aquele que todas queriam, fazendo com que muitas mulheres gastassem muito dinheiro para conseguirem ter um cabelo um pouco parecido com o dela. Todas as formas, os ângulos e as cores de seu rosto andavam em perfeita harmonia.
Ela até se achava bonita, quando o espelho a refletia apenas do pescoço para cima. Também, pudera. Nunca conseguiu ser magra mas, cá para nós, não era tão gorda assim. Era, como posso dizer, gordinha.
Mas isso não era o suficiente. Ela cresceu vendo os padrões de boa forma cada vez mais sem formas. Na sua família, era sempre a gordinha, a desajeitada.
Em sua casa, também não encontrava sossego. Sempre ouvia uma crítica. Quando perguntava à sua mãe se sua roupa estava bonita, sempre ouvia: "Está ótimo, mas ficaria muito melhor se você emagrecesse..." Com essa resposta, já não sabia se a roupa estava boa.
O pior era encontrar com o irmão, que sempre a olhava fundo nos olhos e falava: "Você é tão linda..." e, antes que ela conseguisse ficar feliz, ele concluía: "... pena que é tão gorda."
Ela, que sempre se esforçava para conseguir agradar a todos, não conseguia fazer nada quanto a isso. Todos a pressionavam tanto, que ela não conseguia emagrecer nem com dietas e exercícios.
Olhava-se no espelho e, muitas vezes, não queria nem sair de casa. Se via cinco vezes mais gorda do que era.
Uma noite, ao chegarem em casa depois de um árduo dia de trabalho, seus pais seguiram um rastro de sangue que começava na cozinha, passava pelo quarto dela e acabava no banheiro, frente ao espelho.
Olharam para o chão e viram sua linda, porém gordinha, filha maqueada, penteada e vestida elegantemente, com trajes de festa, caída em uma poça de sangue, com um sorriso no rosto, uma faca na mão, e a barriga retalhada.
Ninguém entendeu nada.


Julia Wigner.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O Ano Novo

"I'm not saying right is wrong, it's up to us to make the best of all the things that come our way." - The Marterplan - Oasis.
Ela acordou com a cabeça pesada, o corpo mole, pensando em tudo que teria que resolver. Sentou na cama, apoiou a cabeça entre as mãos, e tentou não se desesperar. Mais um ano de sua vida se passou. Lembrou-se de como desejava chegar aos trinta logo; pensava que sua vida seria completamente diferente, que saberia o que esperar da vida, que se conheceria perfeitamente, que teria uma carreira de sucesso, estabilidade financeira e emocional e, quem sabe, até uma família.
Ela percebeu, então, que não faltava muito para chegar aos trinta (afinal, o tempo passa cada vez mais rápido), mas não estava nem um pouco perto de conseguir o que ela acreditava que conseguiria. Quando pensou na estabilidade financeira e emocional, começou a rir. Se perguntou se isso realmente existia. Não soube se responder, mas acreditava que não.
Voltou um pouco na memória e se lembrou que sim, ela já conseguira muita coisa. Coisas importantes como, finalmente, saber o que deseja e espera da vida, ter amigos com os quais ela realmente se identificava, saborear um relacionamento verdadeiramente completo.
Nesse momento, ela agradeceu por tudo, e levantou da cama animada para seu 23° aniversário, acreditando que tudo iria dar certo, e pensou: "Que venham os próximos anos". Se arrumou e celebrou seu dia...


Julia Wigner.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Tudo

"Paraiso, es una cura, perfeccion. Florecer mirandote a los ojos, perfeccion." - En remolinos - Soda Stereo.
Ilusões, desilusões, medo, tristeza, bar, cerveja, sinuca, conversa, risada, carona. Feriado, solidão, convite, viagem, teatro, bar, carro, música, estrada, sozinhos... juntos.
Bar, música, amigos, estranhos, novos amigos, conversas, risadas, cervejas, dança, poses, fotos, tequila, mais risadas, biquinhos, caretas, outra tequila, olhares, aproximação... beijo.
Beijos, segredo, trabalho, marmita, amigos, ex, mensagens, fim de semana, despedidas, carona, feriado, família, baladas, amigos, cerveja, risada, conversa, festa, pedido... sim.
Abraços, beijos, amizade, confiança, todo dia, saudade, noite, vontade, calor. Corpo, abraço, beijo, aperto, boca, cabelo, pescoço, pele, suor, unhas, dentes, respiração, olhos, toque, sensações, arrepio, pernas, umbigo, seios, barriga, língua, intimidade... perfeição.


Julia Wigner.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Estranho

"Fist to fist and eye to eye, standin' toe to toe. He would've let me walk away, but I just would not let it go" - The night I called the old man out - Garth Brooks.


Ela era criança. Tinha que dormir cedo para ir para a escola de manhã. Quando mamãe falava para ela ir para cama, sentia medo, cala-frio, mas mesmo assim ia. Sempre fora obediente.
Não queria ir para cama, pois era sempre o mesmo pesadelo. Antes que ela conseguisse dormir, um homem chegava em sua casa. No começo, ouvia a voz de sua mãe e a do homem conversando baixinho. Depois, o volume aumentava. Ficavam aos gritos.
Ela se encolhia e cobria o rosto, tentando abafar o som. Com o tempo, foi se acostumando com esse estranho que entrava em sua casa todos os dias.
Quando ficou um pouco mais velha, com dez anos, viu o estranho bater em sua mãe. O que mais a chocou não foi a violência, mas ter reconhecido o estranho. Naquele momento, rezou para que seu pai tivesse um irmão gêmeo que nunca mencionara.
Na adolescência, aprendeu que tinha dois pais; o que conhecia e admirava desde criança, e o que voltava para casa no começo da noite; o que saía para trabalhar, e o que voltava do bar.
Nessa época, não teve mais medo, e resolveu enfrentar o que voltava para casa de noite. Um dia, o estranho foi para o quarto de sua mãe e com ela começou a gritar. A menina nem sequer pensou e, quando se deu conta, já estava quase em cima dele, aos gritos. Ela, que nunca brigara com seu pai, não ficou com medo nem vergonha de gritar com o homem à sua frente. Aquele não era seu pai para ter que respeitá-lo. Teve certeza disso enquanto olhava em seus olhos. Seu pai a olhava com ternura, mas aquele estranho a olhava com raiva.
Depois de algum tempo, o pesadelo finalmente chegou ao fim. O estranho nunca mais voltou para casa mas, para sua tristeza, seu pai também não.
Julia Wigner.